12/03/2015

Antes do nome, Adélia Prado

Por Annie Wallker, 12/03/2015, às 8h59 

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apoia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo filho é verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa grave, surda-muda, 
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graças, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
Adélia Prado

FONTE: Prado, Adélia, 1935 - Bagagem. 22ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 
Localização na Biblioteca Prof. Carlos Alberto Barbosa: 821.134.3(81)-1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Novo Site do Brisa